2.4.08

Salve o Mestre!

Uma pequena homenagem do Furando a rede para o Mestre Armando Nogueira, que teve o seu poema eternizado no maior do mundo!

Maracanã

Revejo, com saudade, as bandeiras das tuas batalhas repartidas sobre o campo

Revejo, com saudade, a tua multidão que torce e distorce a verdade até morrer, doa a quem doer

Revejo, com saudade, as esperanças que se perdiam pela linha de fundo no entardecer de cada jogo

Quantas vezes foste a minha pátria amada, idolatrada, salve, salve a seleção!

Quantas vezes a minha alma escapava de mim, e sem que o árbitro notasse, aparecia na pequena área, providencial, para fazer o gol da vitória

Perdi a conta de quantos dos gols que fiz com pés que nunca foram meus

Saudades de certa lágrima de vitória que, um dia, vi brilhar no rosto quase meu de uma criança

Maracanã

És a fantasia da paixão que aproxima e divide: louvor e blasfêmia, alegria e desdita

És o gol de Gigghia, celebrado com um minuto de silêncio à soberba nacional

És o ignorado herói de uma tarde cujo gol restou sem data como se nunca houvera sido feito

És gol de placa que ninguém sabe ao certo como nasceu mas que o tempo vem tratando de faze-lô cada dia mais bonito

Gol de fábula

És o craque que passa sem pressa, tecendo a promessa de gol com a bola nos pés e os olhos na linha do horizonte

És Gerson e Jair da Rosa Pinto, que tinham no pé esquerdo o rigor da fita métrica

És Nilton Santos, futebol de fino trato na majestade e no saber

És zizinho, que conhecia, como ninguém , todos os atalhos da tua geometria

És Zico, que driblava triscando a grama suave como uma pluma

És a "folha-seca" de Didi, fidalgo de rara nobreza que tratava a bola como se trata uma flor

És Ademir Menezes correndo, olímpico, pelos indizíveis caminhos do gol

És Carlos Castilho, santo goleiro que fazia milagres pelos confins da pequena área

És Pelé, cujos gols eram tramados na véspera (ele trazia de casa as traves e a bola do jogo)

És Garrincha, que dobrava as esquinas da área driblando Deus-e-o-Mundo com a bola jovial da nossa infância

Quanta saudade daquele drible pela direita que alegrava as minhas tardes de domingo

És, enfim, a vitória e a derrota, caprichosa imitaçao da minha vida

E porque és parte da minha memória, seguirei cantando, comigo, a melodia de teu doce nome: Maracanã, Maracanã

Armando Nogueira

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