
Revejo, com saudade, a tua multidão que torce e distorce a verdade até morrer, doa a quem doer
Revejo, com saudade, as esperanças que se perdiam pela linha de fundo no entardecer de cada jogo
Quantas vezes foste a minha pátria amada, idolatrada, salve, salve a seleção!
Quantas vezes a minha alma escapava de mim, e sem que o árbitro notasse, aparecia na pequena área, providencial, para fazer o gol da vitória
Perdi a conta de quantos dos gols que fiz com pés que nunca foram meus
Saudades de certa lágrima de vitória que, um dia, vi brilhar no rosto quase meu de uma criança

Maracanã
És a fantasia da paixão que aproxima e divide: louvor e blasfêmia, alegria e desdita
És o gol de Gigghia, celebrado com um minuto de silêncio à soberba nacional
És o ignorado herói de uma tarde cujo gol restou sem data como se nunca houvera sido feito
És gol de placa que ninguém sabe ao certo como nasceu mas que o tempo vem tratando de faze-lô cada dia mais bonito
Gol de fábula
És o craque que passa sem pressa, tecendo a promessa de gol com a bola nos pés e os olhos na linha do horizonte

És Gerson e Jair da Rosa Pinto, que tinham no pé esquerdo o rigor da fita métrica
És Nilton Santos, futebol de fino trato na majestade e no saber

És Zico, que driblava triscando a grama suave como uma pluma
És a "folha-seca" de Didi, fidalgo de rara nobreza que tratava a bola como se trata uma flor
És Ademir Menezes correndo, olímpico, pelos indizíveis caminhos do gol
És Carlos Castilho, santo goleiro que fazia milagres pelos confins da pequena área
És Pelé, cujos gols eram tramados na véspera (ele trazia de casa as traves

És Garrincha, que dobrava as esquinas da área driblando Deus-e-o-Mundo com a bola jovial da nossa infância
Quanta saudade daquele drible pela direita que alegrava as minhas tardes de domingo
És, enfim, a vitória e a derrota, caprichosa imitaçao da minha vida
E porque és parte da minha memória, seguirei cantando, comigo, a melodia de teu doce nome: Maracanã, Maracanã
Armando Nogueira
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